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Artigo de Imprensa / Apr 04, 2020

Novo fármaco pode chegar no outono

Expresso, 4 abril 2020

Farmacêutica portuguesa Hovione participa na descoberta de molécula inédita para tratardoentes com covid-19

É com notória preocupação que Guy Villax, administrador delegado da farmacêutica portuguesa Hovione, fala da pandemia de covid-19: “É o maior desafio das nossas vidas. Vamos ter mortos, destruição de empresas e de emprego e vamos sair disto muito mais pobres.” A empresa química, especializada em produtos farmacêuticos, participa no desenvolvimento de tratamentos para a doença, em conjunto com outros parceiros. “Talvez no outono” já esteja disponível uma nova molécula, para a qual a Hovione contribui ao nível da “produção de um componente chave”. O medicamento está na fase III de avaliação clínica (é a última antes da aprovação) e os ensaios em doentes infetados estão a ser feitos na China, EUA e União Europeia. Tudo depende do sucesso desta etapa e da obtenção de luz verde das autoridades reguladoras, que podem também agilizar os procedimentos para a entrada do fármaco no mercado. Depois, segue-se o maior desafio de todos: “Produzir a enorme quantidade de produto para tratar milhões de doentes, e depressa.” A que soma o obstáculo de não se saber ao certo quantas pessoas vão precisar do antiviral. “Começámos por estimar um milhão de tratamentos, para o final de 2020, e já vamos em dez milhões”, revela Guy Villax. Paralelamente, há outros tratamentos que estão avançados, “fruto do trabalho no âmbito da epidemia de ébola”, adianta Guy Villax. Mas vai levar tempo até os médicos usarem com eficácia estes remédios, que são cruciais enquanto não existe uma vacina, o que ainda vai “demorar 12 a 18 meses” — a Hovione fornece um ingrediente secundário para um dos projetos de vacina. “A ciência e tecnologia é que vão fazer a diferença e a indústria farmacêutica é a única que nos pode acudir”, vaticina o gestor. Para já, restam-nos “medidas medievais de isolamento social e de lavagem das mãos”.

Fundada há 61 anos em Portugal pelos pais de Guy Villax, a Hovione está em 10% dos cerca de 40 fármacos que a autoridade norte-americana do medicamento aprova por ano, o que a faz um aliado natural dos projetos relacionados com a covid-19. Além disso, sem nunca ter produzido gel desinfetante para as mãos, o laboratório, em pouco tempo, fabricou e já doou 80 mil litros deste produto, nomeadamente a hospitais — com a ajuda da Medinfar, da Logoplaste e dos CTT.

Para Guy Villax é fundamental que se façam “muitos testes (cem mil por mês) para saber quem está infetado e deve ficar em quarentena e quem está imune e pode trabalhar com mais à vontade”. “O Governo tem de entender isto”, até porque só haverá tratamentos suficientes se reduzirmos o número de infeções.

Ana Sofia Santos

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José Luís Santos, diretor de negócios estratégicos da Hovione, veio à Liga dos Inovadores explicar as tecnologias criadas por esta farmacêutica portuguesa. Dissolver os comprimidos para que possam ter o efeito desejado e produzir medicamentos em contínuo são as apostas da empresa fundada em 1959 por empreendedores húngaros que se refugiaram em Portugal Para que um comprimido que tomamos possa ter os efeitos desejados no tratamento de um qualquer problema de saúde, é preciso que se dissolva no nosso organismo. Mas muitos componentes desse medicamento não são solúveis na sua fase inicial. Para que o sejam, a farmacêutica Hovione desenvolveu uma tecnologia conhecida como secagem por pulverização, ou spray drying na versão anglo-saxónica, que leva a que o comprimido se dissolva em água e passe a ter o efeito desejado. José Luís Santos, diretor de negócios estratégicos da Hovione, esteve na Liga dos Inovadores, o podcast do Expresso sobre inovações desenvolvidas em Portugal, para explicar esta e outras tecnologias que levam a que a farmacêutica fundada em 1959 por Ivan Villax e por outros refugiados húngaros que vieram para Portugal esteja a dar cartas na produção de medicamentos. A Hovione não tem medicamentos próprios: “Somos uma empresa que produz sob contrato para as grandes empresas farmacêuticas”, explica o gestor. E outra das apostas passa pela produção de comprimidos em contínuo: "Conseguimos no mesmo edifício, com uma única equipa, produzir o medicamento num tempo recorde”. Em junho do ano passado a Hovione inaugurou uma nova linha de produção em contínuo e vai também abrir uma nova fábrica no Seixal em 2027 que terá uma enorme capacidade de expansão, a juntar às que já tem em Portugal (Loures), nos EUA, na Irlanda e na China (Macau). As moléculas estão a tornar-se mais complexas, os desafios são cada vez mais difíceis e requerem-se soluções que ainda não sabemos quais serão. Poderíamos tomar um comprimido, o comprimido desintegrava-se, mas a substância, como não se dissolvia, entrava no nosso organismo e era expelida, sem ter a sua função terapêutica, não servia para nada. É aqui que entra a nossa tecnologia. Os nossos clientes são as grandes empresas farmacêuticas que estão sob pressão para colocar os seus medicamentos no mercado, porque normalmente estes medicamentos estão sob patente.   Oiça o podcast completo em Expresso.pt    

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